12 de out. de 2011

A criança e a sociedade de mercado **


“Ontem um menino que brincava me falou que hoje é semente do amanhã...”

Gonzaguinha

Em 12 de outubro se comemora o dia das crianças. A população se mobiliza para garantir o presente da meninada, vão às compras e o mercado se aquece. O mesmo se repete no natal, na páscoa, entre outras datas comemorativas. A meu ver isso revela um pouco a visão que se tem da criança na sociedade capitalista.

O jovem Estatuto da Criança e Adolescente – ECA, aprovado em julho de 1990, define crianças e adolescentes como pessoas sujeitos de direitos. Antes dele, tínhamos o Código de Menores, onde a aplicabilidade da lei se voltava apenas para os menores (crianças e adolescentes) que estivessem abandonados, em situação de pobreza, miséria, etc. Ou seja, para os pobres. O ECA traz uma visão de criança e adolescente bastante progressista, segue os princípios da Declaração Universal de Direitos Humanos. Ele universaliza a ideia de criança e adolescente, independente de sua classe social, cor, raça e religião. Os faz sujeitos e não coisas.

A família, principal núcleo de proteção da criança, se dilacerou, sobretudo aquelas constituídas na classe trabalhadora. A figura materna passa a assumir responsabilidades, antes exclusiva do pai. Pais que mal conhecem seus filhos, que trabalham o dia todo, quando chegam em casa resta a fadiga. Crianças que crescem sem ter presente no seu dia-a-dia as figuras materna e paterna. Cansados, se esquecem de olhar para suas crianças, porque perderam a esperança, deixaram de sonhar. Resta no dia 12 de outubro comprar um presente para seu filho e compensar a ausência do resto do ano.

Ainda está presente na sociedade a ideia do “menor abandonado”. A grande mídia constrói essa ideia dia-a-dia, nas colunas policiais com os filhos dos pobres, os menores, enquanto que nas peças publicitárias as crianças e adolescentes abastadas.

O mercado usa a imagem da criança para vender mais, incute valores subjetivos relacionados a criança para justificar o consumo desenfreado. Ele se apropria da ideia que se tem de criança, relaciona isso com felicidade, prosperidade, sucesso, etc. Tudo em nome do deus mercado. Consumindo, perdemos o sentido da vida, deixamos de enxergar as crianças como elas realmente são. Quando as deixamos de enxergar, deixamos de sonhar, nos distanciamos do sentido de nossas existências. A criança é a semente do amanhã!


Paulo Roberto dos Santos - Paulinho

** Texto publicado no Boletim O Gancho da Pastoral Operária de Campinas no mês de outubro de 2011